| Asissti a esse filme durante a Mostra BR de cinema, em outubro de 2004. Agora em cartaz é bom ver as pessoas reconhecendo seu grande valor. Me surpreendeu ver um filme latino muito bem feito que não fosse argentino ou mexicano (nossos velhos conhecidos).
A história começa com um padre socialista trazendo as normas de igualdade pregadas pelo governo Allende para dentro da escola que dirige. Ele coloca garotos de uma favela para estudarem gratuitamente com os bem-nascidos, lado a lado na mesma sala. Ao apresentar-lhes à classe, pede que digam seus nomes. Um deles diz baixinho: Pedro Machuca. O Padre pergunta: Hein? Ele repete o nome. O padre insiste: Fale alto que nem eu nem ninguém lhe ouve assim. Ele então grita com raiva: Pedro Machuca!! O padre triunfante já lhe dá a primeira lição, ele deve se afirmar como indivíduo, sua voz deve brandir o que tem a dizer. Será que deve?
Essa é a pergunta que persegue durante o filme. Quem deve dizer o quê, e qual o momento? No tempo todo o que vemos é a ação oposta massacrante do silêncio em prol da conivência, do medo, da conveniência, da sobrevivência até, e os que insistem em brandir seus nomes se machucam.
Gonzalo Infante, o garoto bem nascido que faz amizade com Pedro Machuca conhece de perto a realidade da classe oprimida. Visita o barraco de seu amigo, conhece o pai bêbado, acompanha-o com o tio às passeatas, ora as de direita ora as de esquerda, vendendo bandeirinhas conforme a ideologia defendida. Em sua casa convive com a subserviência forçada em acompanhar a mãe às suas visitas ao amante que lhe traz produtos importados.
Machuca tem um significado real no fime. Machuca ver os favelados sucumbindo à força militar da ditadura Pinochet, machuca ver a burguesia mantendo sua situação, mas o machuca mais é ver soterrada a iniciativa de se tratar como iguais seres que têm os mesmos direitos simplesmente porque são feitos da mesma matéria.
Pedro e Gonzalo representam essa dicotomia. No fim vemos que tudo não passou de uma sonho infantil desfeito sob uma bala de carabina.
E essa ferida não sara.
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